Fonte: https://www.linkedin.com/pulse/driving-evolutionary-change-kanban-method-david-anderson/

Nove Mitos Sobre o Método Kanban

Gustavo Cocina

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Desde que comecei a estudar o Método Kanban, criado por David J. Anderson, passei a perceber desinformação a respeito sendo propagada em todo lugar, o que me motivou a listar aqui nove mitos que vejo com alguma frequência.

Apesar do Manifesto Ágil começar com “Estamos descobrindo maneiras melhores…“, minha percepção pessoal é que uma grande parte da comunidade Ágil está satisfeita com maneiras já conhecidas de trabalhar e não descobre outras práticas com a profundidade necessária, perdendo a oportunidade de conhecer o que de fato é o Kanban e evoluir continuamente com ele.

Nessa parte da comunidade Ágil o Kanban é enxergado única e equivocadamente como um modelo de produção puxada, sem entendimento do que isso significa para eficiência e qualidade e principalmente sem saber o principal:

O Kanban é um método de gestão de mudança.

O Kanban foi originalmente concebido para o trabalho do conhecimento, bebendo do Sistema Toyota de Produção e dos modelos Lean Manufacturing e Six Sigma a cultura de melhoria contínua, adotando também o fluxo e a teoria das filas. Além disso, o Kanban se vale da Teoria das Restrições para evitar o desperdício de atuar em algo que não seja o elo mais fraco da corrente — o gargalo sistêmico — , garantindo assim melhorias globais com um mínimo de mudanças.

Vamos aos mitos.

1. Se eu tenho um quadro kanban, já estou praticando Kanban

O quadro kanban é uma forma de implantar a seguinte prática geral do Kanban: visualize o trabalho.

Se um quadro kanban é usado para acompanhar um fluxo de trabalho, mas sem aplicação dos princípios e práticas gerais do Kanban, não é possível afirmar que esse método está sendo utilizado. Assim, não se resolve os problemas que o Kanban se dispõe a resolver.

Em sistemas com altíssima quantidade de tickets pode não ser viável ter um quadro, mas mesmo assim, usa-se o Kanban para analisar o fluxo.

2. O Kanban é limitado a times

O Kanban ajuda: o time a melhorar o fluxo; o negócio a atender critérios de satisfação dos clientes e obter resultados robustos; e a empresa a sobreviver por muitas décadas.

Portanto, o Kanban é aplicável da camada operacional até a camada executiva.

3. É um método Agile

O Kanban não está sob o guarda-chuva do Agile porque não precisa do Manifesto Ágil para rigorosamente nada.

O Kanban é um caminho alternativo para a agilidade.

Em vez de começar com uma grande mudança como o Agile faz, forçando diferentes papéis às pessoas e impondo novos processos enquanto descarta processos existentes, a abordagem do Kanban é de começar com os processos e papéis atuais e puxar mudanças para melhor (kaizen) somente onde é necessário, sendo portanto, uma escolha pela evolução, um caminho de menor risco e retorno mais rápido, em vez de revolução (kaikaku).

Por que Kanban? Autor: Rodrigo Yoshima

4. Kanban vs Scrum

Equipes Scrum ou de outros métodos podem e devem usar Kanban para melhoria contínua. A Scrum.org publicou o Guia Kanban para times Scrum que embasa a certificação PSK I - Professional Scrum with Kanban e orienta a adoção de quatro das seis práticas gerais do Kanban e a evolução dos eventos do Scrum para serem orientados à análise e melhoria do fluxo da equipe.

5. É necessário maturidade para usar Kanban

Um princípio do Kanban é começar com o que se faz atualmente, não sendo necessário ter alguma maturidade inicial como pré-requisito para começar a kanbanizar. O Kanban Maturity Model sugere práticas adequadas para todos os níveis de maturidade.

Livro Kanban Maturity Model. Fonte: https://www.kanbanmaturitymodel.com/

6. O Kanban não se preocupa com pessoas, só com processos

Como o trabalho do conhecimento é realizado por pessoas em diferentes níveis em uma empresa, o Kanban traz agendas:

  • Para os times ganharem alívio de condições abusivas: sobrecarga, baixa qualidade e insatisfação com o trabalho;
  • Para a camada gerencial responder questionamentos duros com confiança e tomar decisões difíceis com confiança;
  • Para a camada executiva ter confiança na entrega de objetivos estratégicos, liderar o ambiente competitivo e conseguir sobrevivência do negócio em longo prazo.

7. O Kanban não tem reuniões

Sem impor formatos nem forçar periodicidades, o Kanban sugere sete cadências de tomada de decisão que ajudam a: entregar o que foi demandado; melhorar os processos; e fazer as coisas certas (as opções de negócio mais lucrativas).

As sete cadências do Kanban. Fonte: https://getnave.com/blog/kanban-meetings/. Autora: Sonya Siderova

8. O pessoal do Kanban tem obsessão com fluxo

Nos níveis iniciais de maturidade, o Kanban busca eficiência. Uma vez que se consiga estabilizar e otimizar o fluxo, o Kanban busca eficácia, voltando sua atenção à satisfação do cliente e à robustez do negócio.

Aprofundando mais ainda, o Kanban volta sua lente à busca da liderança do mercado e da perpetuidade do negócio; nesse ponto o fluxo deixou de ser um problema há muito tempo.

9. O KMM é tão complexo quanto o SAFe

KMM e SAFe são coisas diferentes e não devem ser comparados.

O KMM não é um framework de escala como o SAFe, mas sim um modelo de maturidade em que cada linha da imagem abaixo à esquerda apresenta práticas para transição e consolidação — das equipes ou da companhia como um todo — àquele nível de maturidade.

Visões do KMM e big picture do SAFe 5.0. Fontes: https://www.kanbanmaturitymodel.com/ e https://www.scaledagileframework.com/

Enquanto isso, o SAFe é um framework de escala que prescreve: a organização das equipes de acordo com os fluxos de valor envolvidos; eventos e timeboxes nos quais acontecem as atividades de planejamento e execução; e os papéis que atuam em cada nível de organização.

Escala-se Kanban fazendo mais Kanban.

Escalar Kanban consiste em identificar o relacionamento entre diferentes serviços e promover a gestão das dependências em seus sistemas kanban. Quadros kanban de coordenação podem ser criados quando necessário. Quadros kanban e as práticas do Kanban podem ser adotados para gestão do portfólio estratégico.

Para saber mais, visite os links espalhados por este artigo e leia os livros gratuitos Kanban Essencial Condensado e Essential Upstream Kanban.

Agradecimento

Esse artigo jamais teria sido escrito sem a participação nos treinamentos oficiais da Kanban University oferecidos pela Aspercom Educação Corporativa e à convivência com a comunidade brasileira de Kanban, a quem agradeço profundamente.

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